sábado, 1 de setembro de 2012

Nossos Pais

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Nossos Pais

Por Martha Medeiros

            O dia 12 de agosto é o dia dos pais. 
Eu há muitos anos perdi aquele a quem amava como a um pai de verdade.Ele se foi quando eu tinha apenas 15 anos e ele apenas 65 anos.

Até aos 10 anos de idade eu pensava que ele era meu pai. "Santa inocência".Ele era apenas o meu tio por afinidade, casado com a minha tia.Quando eu soube a verdade fiquei arrasada, mas no meu coração nada mudou.
Tenho certeza de que ele me amava muito e foi ele quem ocupou o espaço do pai que nunca quis saber de mim.O meu pai biológico não me fez falta em momento algum. Em matéria de carinho, em matéria de amor,posso dizer que fui muito feliz com esse pai do coração.
Anos depois, perdi também a minha tia a quem considerava como uma mãe e recentemente a minha maior perda,a minha mãe verdadeira.
Todos nós,um dia, passamos por isso.E dor maior não há.
Por que será que a vida é assim tão dura e inflexível?

Nossos Pais


Pais heróis e mães rainhas do lar.Passamos boa parte da nossa existência cultivando esses estereótipos.
Até que um dia o pai herói começa a passar o tempo todo sentado, resmunga baixinho e puxa uns assuntos sem pé nem cabeça?
A rainha do lar começa a ter dificuldade de concluir frases e dá para implicar com a empregada.
O que papai e mamãe fizeram para caducar de uma hora para outra?
Fizeram 80 anos.Nossos pais envelhecem.Ninguém nos havia preparado para isso.
Um belo dia,eles perdem o garbo,ficam mais vulneráveis e adquirem umas manias bobas.Estão cansados de cuidar dos outros e de servir de exemplo:Agora,chegou a vez deles serem cuidados e mimados por nós,nem que para isso recorram a uma chantagenzinha emocional.
Tem muita quilometragem rodada. E sabem tudo e o que não sabem,eles inventam.Não fazem mais planos a longo prazo. Agora,dedicam-se a pequenas aventuras,como comer escondido tudo o que o médico proibiu.
Estão com manchas na pele. Ficam tristes de repente.Mas não estão caducos: caducos ficam os filhos,que relutam em aceitar o ciclo da vida.
É complicado aceitar que nossos heróis e rainhas já não estão no controle da situação.
Estão frágeis e um pouco esquecidos. Têm esse direito,mas seguimos exigindo deles a energia de uma usina.Não admitimos suas fraquezas,seu desânimo.
Ficamos irritados se eles se atrapalham no celular e ainda temos a cara de pau
de corrigi-los quando usam expressões em desuso:
- Calça de brim?
- Frege?
- Auto de praça?
Em vez de aceitarmos com serenidade o fato de que as pessoas adotam um ritmo mais lento,com o passar dos anos,simplesmente ficamos irritados por eles terem traído nossa confiança. A confiança de que seriam indestrutíveis como os super -heróis.
Provocamos discussões inúteis e os enervamos com a nossa insistência para que tudo siga como sempre foi.
Essa nossa intolerância só pode ser medo.
Medo de perdê-los e medo de perdermos a nós mesmos,medo de também deixarmos de ser lúcidos e joviais.
É uma enrascada essa tal passagem de tempo.Nos ensina a tirar proveito de cada etapa da vida,mas é difícil aceitar a etapa dos outros. Ainda mais quando os outros são papai e mamãe,nossos alicerces,aqueles para quem sempre podíamos voltar,e que agora, estão dando sinais de que um dia irão partir sem nós.



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